11 dezembro 2011

Diario de Bordo - Rio / Abrolhos / Rio


Diário de bordo

15/10 - sábado -
Saímos do ICRJ as 14:30, ventos fracos no quadrante sul de 07 a 10 nós caindo e variando de intensidade. Motoramos até Piratininga depois vela até Maçambaba. Tripulação animada, ninguém acha nada dentro do barco depois da arrumação inicial. Os turnos foram planejados, mas ninguém está com o sono certo e acabou ficando meio pelo cansaço de um, frio de outro. Eu dormi de 22:00 as 00:00 e depois de 04:00 até 06:30 quando chegamos a Búzios, acordei nos Ossos e não em manguinhos com tinha sido combinado inicialmente. Descansaremos aqui e esperaremos o sudoeste firmar.

16/10 - domingo -
Dia parado, churrasco a bordo, previsões não muito boas, devemos seguir por aqui amanhã estamos estudando uma adiantada até Macaé. As gaivotas ficam cercando o churrasco e com isso ficam com as gordurinhas da carne, como aqueles vira latas que rondam o churrasquinho da esquina.

17/10 - segunda -
Todos acordam de ressaca, ontem foi o dia de encher a cara, pois teríamos hoje para recuperar. Partimos as 17:00 em direção ao Cabo de São Tomé. Muita apreensão por parte da tripulação. Cmte Cássio, Eu e Grumete Fred estamos na nossa primeira vez, Francisco Laport já cruzou por aqui nos anos 90 e tem contas a acertar com o cabo e a costa após ele. Um sudeste de 15 nós nos empurra forte no través, começam os turnos, mas a preocupação não deixa ninguém dormir. Resultado, só eu que durmo e o resto da tripulação fica super cansada por ficarem acordados. O transito de navios é enorme no través de Macaé e nosso AIS foi de grande ajuda na localização dos navios.

18/10 - terça -
Me acordam as 05:00 da manhã para assumir o leme e toco o barco a 7 nós num vento de 12/15 nós meio empopado, meio de alheta. Perco meu primeiro peixe, que arrebenta minha linha que era para resistir até 60kgs!!! O segundo leva o resto da linha e a pescaria fica para depois de Vitoria. Ao entardecer já estamos chegando a Vitoria e volta o transito de navios. Entramos na barra entre 4 navios !!! Amarramos o barco no cais do ICES e dormimos como pedra.

19/10 - quarta -
Acordamos com o Fernando chegando ao barco para completar a tripulação. Mas após o café da manhã resolvemos deixar o barco aqui por umas semanas para esperar a chuva passar. Não tem graça chegar a Abrolhos e ficar debaixo de chuva...A tripulação se dispersa e volta para o Rio, uns de avião, outros de ônibus.

30/10 - domingo -
Cmte confirma a janela de tempo para 03/11 e parte para Vitoria, a tripulação chega no dia 02/11 e eis que temos uma surpresa. Arrombaram o barco em pleno Iate clube do Espírito Santo. Roubaram a churrasqueira, seis defensas grandes, o violão, o binóculos, minha caixa de iscas e mais outras coisas que vamos descobrindo pelo caminho...uma pena e a assistência do clube foi péssima, primeiro sugeriram que ancorássemos na nova piscina, mas lá a obra está embargada e não tem vigia, e o clube se exime de responsabilidade sobre os barcos que ali param, só não contaram nada disso para nós!!! Vitoria que estava ganhando minha simpatia ficou manchada por este fato lamentável. Ainda bem que o ladrão não levou os eletrônicos senão a viagem tinha acabado por ali mesmo. A confusão atrasou a partida.

04/10 - Partimos as 7:30 da manhã e o vento já estava presente no litoral capixaba. Quinze nós de sudeste empurrava-nós na direção certa. O dia passou voando sob a expectativa de chegar a Abrolhos. Desta vez os turnos foram de 2 horas no leme desde a saída e funcionou bem.


05/10 - Amanheceu e todos fitavam o horizonte. Mas depois de alguns cálculos, veio a aposta. Quem acertava a hora de chegada. Que depois de muita discussão ficou decidido que a hora de chegada seria a hora que baixasse o ferro.
As primeiras baleias começaram a aparecer com o sol e no meio da manhã já tínhamos visto mais de 20. As 12:13 baixamos o ferro em Abrolhos. O grumete ganhou a aposta, acreditou na indecisão do capitão em escolher um lugar, o que atrasou o ferro um pouco.
Fizemos um contato com o Farol Abrolhos que nos passou para Berta, monitora do Parque Nacional, ela veio a bordo e nos explicou que cada pessoa deveria pagar uma taxa de 27,00 reais por dia e tinham direito a desembarcar na ilha da Siriba com acompanhamento de guia. Que era ela mesma... Todos desembarcaram, menos eu, queria um pouco de silencio, curtir o momento, que lugar mágico esta nossa ancoragem. Enquanto todos faziam o tour pela Siriba, preparei um macarrão especial e a galera não acreditou quando voltou a bordo. Abriram o vinho e todos de barriga cheia, curtiram aquela noite estrelada.

06/11 - De manhã começaram as atividades aquáticas, Chico deu a volta na redonda mergulhando, eu e Fred arriscamos umas marolinhas, Cássio montou o Wind surf e saiu velejando, Fernando ficou só no mergulho. A tarde depois do almoço uma duvida surgiu, o gelo tinha acabado e teríamos que ficar sem gelo ou partir para Caravelas aonde poderíamos abastecer de diesel e gelo. Mas depois de um papo na Berta consegui umas panelas de gelo que pegamos no final de tarde, aproveitamos e pegamos também a previsão do tempo com o pessoal do Farol. O Nordeste ia entrar no dia seguinte e permitiria nossa volta. Mesmo assim resolvemos ir a Caravelas.

07/11 - Partimos as 8:00 para cobrir as 30 milhas até Caravelas. No caminho tínhamos o Parcel das Paredes e Coroa Vermelha, dois recifes que, ao largo, parecem ter boas condições para o surf. Foi meu teste final em navegação, entramos no Canal de Caravelas com as cartas digitais da marinha, pois pelas cartas da Garmin, estaríamos em terra!
A cidade de Caravelas fica 4 milhas para dentro de um canal de meia milha de largura. Hoje tudo bem sinalizado por uma empresa mineradora que mantém um porto no local. A cidade é bem simples e simpática, passamos a noite lá depois de abastecermos o barco. No dia seguinte, a duvida se pararíamos em Vitoria ou iríamos direto. Ia depender dos turnos funcionarem e o pessoal ficar descansado.

08/11 -  Partimos cedo, e fizemos uma velejada excelente com o nordeste empurrando pela alheta. Tudo tranquilo, algumas baleias distantes e uma noite estrelada num mar relativamente tranquilo. Os turnos funcionaram bem.

09/11 - Amanhecemos perto do Pontal da Regência, o vento se manteve entre 10 e 15 nós o tempo todo, colocamos o balão. E fomos com ele até Vitoria, que cruzamos pelo través no final da tarde, quando vento já estava perto dos 18 nós, tentamos dar um jibe, mas demos foi um chinês espetacular, mas conseguimos sair dessa sem maiores prejuízos. A noite veio chegando e o vento apertando, peguei no leme as 17:00 e fui até as 21:00, depois disso fui para dentro descansar. O problema é que eu era um dos poucos a conseguir dormir com o balanço, nessa altura já estávamos só com a grande no 3º rizo e surfávamos a 10 nós. Derepente, alguém deu mole no leme arribou demais o barco, que deu um jibe involuntário e o moitão da contra escota se partiu, fazendo a retranca ir violentamente contra os runners, não satisfeito o timoneiro resolveu consertar a cagada e voltou dando novamente um jibe, o comandante apavorado com a sua retranca tentou segurar para amortecer um pouco o baque, mas foi arremessado de costas no chão, quase deslocando o ombro. Isso tudo eu lá na cabine de proa sendo jogado de um lado para o outro. Arrebentou a alça do runner, que funcionou como amortecimento para a pancada.

10/11 - Acordei as 4:00 da manhã e o vento rugia, 25/30 nós e as surfadas agora estavam na casa dos 12, 13 nós, sendo que o gps marcou a max. de 16.2nós!!! Isso para um monocasco é muito!!! Chico e Cássio estavam no leme, já a bastante tempo, e lá fui eu render eles, a essa altura estávamos chegando ao Cabo de São Tomé. Não consegui ficar muito tempo no leme, meu olhos fechavam e estava ficando perigoso, Cássio assumiu de novo. Ao amanhecer tínhamos sido empurrados para sotavento da rota e estávamos no limite das plataformas de petróleo. o movimento de navios aumentou e o AIS voltou a trabalhar. Lá pelas 8:00 estávamos nós preparando para dar um jibe e rumar para Búzios, quando vimos uma rede de pesca nos impedindo de ir para boreste, tivemos que esticar por 5 milhas para contornar a rede, maior absurdo uma rede de espera de mais de 6 milhas de comprimento. Depois do jibe, cruzamos com o Paratii 2 subindo a costa, tentei um contato pelo radio, mas ninguém respondeu. Queria dizer para o Amir klink que ele é um dos "culpados" de nós estarmos ali. com suas historias, preencheu com sonhos o imaginário de nossa tripulação e de muitos outros navegantes. Chegamos em Búzios as 19:00, todos dormiram pesado depois de jogar o ferro em frente ao Iate Clube de Búzios.

11/11 - Sem pressa, depois de tomar um café na padaria dos Ossos, partimos para o Rio, mais uma velejada incrível, desta vez, após montar Cabo Frio, o swell acertou e ficaram uns rolões perfeitos, andávamos novamente a 8/9 nós e nem sentíamos. Peguei um bonito em Arraial que virou almoço e anoitecendo, já aproximando das Ilhas Maricás, entrou um nevoeiro, com uma brisa de contra vento fraquinha, o motor foi ligado e as 02:00 da madrugada do dia 12/11 pegamos a poita do Kamehameha no ICRJ.
Com certeza foi a nossa maior aventura nautica, e ficou o gostinho de quero mais...

Rogerio R. Martin